Dólar renova máxima de 3 anos e mercado fala em ajuste na banda do BC
No fim das operações de sexta-feira, a moeda americana era cotada a R$ 2,082
As recentes altas do dólar, que culminaram com o avanço de quase 1% na sexta-feira que levou a moeda à mais elevada cotação em três anos e meio, e a ausência de intervenções na ponta vendedora já começam a ser interpretadas por parte do mercado como indicação de ajuste para cima na banda cambial do Banco Central.
Notícias ruins no exterior e a expectativa de fluxo fraco, em conjunto com a menor oferta de dólares num período em que tradicionalmente aumentam as remessas de lucros por empresas estrangeiras, acabam se transformando em pretexto para que o mercado teste qual é o real teto da banda imposta ao câmbio nos últimos meses.
"O mercado quer que o BC defina qual é o limite da banda, ele está chamando o BC e deve continuar a puxar o dólar para cima para ver quando ele entra", disse Tony Volpon, chefe de pesquisa de mercados emergentes da Nomura Securities. Segundo ele, a disposição do BC em deixar a moeda passar de R$ 2,08 sem intervir demonstra que a autoridade monetária pode estar ajustando para cima a banda cambial. "Acho que entre R$ 2,05 e R$ 2,15 é o que eles acham melhor agora. Mas a construção de uma nova banda, como foi no caso da anterior, demanda algum esforço."
No fim das operações de sexta-feira, a moeda americana era cotada a R$ 2,082, com apreciação de 0,77% ante quarta-feira, e no maior patamar desde o dia 15 de maio de 2009, quando fechou a R$ 2,11. Essa foi a sexta alta do dólar em sete sessões, novamente superando um nível considerado por alguns operadores como limite para intervenções na ponta vendedora. Agora a dúvida é se o BC irá atuar ou não caso a divisa americana suba acima de R$ 2,10.
A expectativa no mercado é que a pressão sobre o dólar se mantenha até o fim do ano, independentemente dos testes do mercado para definir qual o real teto da banda do BC. A perspectiva é que os fluxos cambiais se mantenham fracos até a virada do ano, com aumento nas remessas de lucro.
"As condições da economia brasileira mudaram ao longo de 2012. Isso acaba chamando a atenção do investidor externo", disse um operador de uma corretora paulista. "O estrangeiro hoje pondera se realmente quer arriscar no Brasil se já vai perder na Europa. Isso espanta um pouco a possibilidade de mais entradas."
No momento que decidir entrar no mercado, o BC deve lançar mão das ferramentas que tem utilizado mais frequentemente, segundo profissionais do mercado. Apenas em último caso a autoridade monetária deve vender moeda à vista para segurar a cotação do dólar e, mesmo assim, apenas em caso de uma valorização muito forte e repentina.
"Tem que haver uma combinação de desvalorização mais forte do real quando comparado a outras moedas e uma intensificação do fluxo negativo. O movimento teria de ser brusco. Aí sim acho que o BC venderia no "spot"", disse Flavia Cattan-Naslausky, estrategista de câmbio para a América Latina do Royal Bank of Scotland. "Antes, o BC deixaria de rolar os swaps reversos que vencem em dezembro e, eventualmente, ofertaria swaps tradicionais."
No mercado de juros, a sexta-feira foi de realização de lucros e ampliação de posições vendidas, em resposta ao aumento na aversão a risco. Com taxas elevadas, investidores aproveitaram para embolsar parte dos ganhos das últimas sessões. O baixo volume no dia também contribuiu para potencializar o efeito das vendas sobre os DIs. A taxa do contrato de juros para janeiro de 2014 caiu de 7,4% para 7,38% na sexta, enquanto o papel para janeiro de 2015 teve recuo de 8,04% para 8,01%. (Colaborou José de Castro)