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Economia colaborativa ganha adeptos no Brasil

Economia do compartilhamento reúne pelo menos 14,5 milhões de manifestações positivas de consumidores brasileiros na internet

Mapeamento inédito feito pelo Movimento Cidade Colaborativa identificou 100 projetos de compartilhamento disponíveis na cidade de São Paulo. As ações foram reunidas no Guia São Paulo Cidade Colaborativa 2015 e organizadas em 10 categorias: cultura (15), mobilidade (13), consumo (11), serviços (10), trabalho e coworking (10), educação (9), meio ambiente (8), alimentação (6), moradia (5) e ONGs e poder público (13).

Cruzamento feito nos dias 24 e 25 de agosto entre cada um desses projetos e seus seguidores no Facebook, a maior rede social do país e do mundo, revela que, juntos, eles já são alvo de quase 15 milhões (14.568.505) de manifestações positivas – uma prova de que milhares de brasileiros aderiram, em algum grau, à chamada economia colaborativa. Esse é o número de pessoas e de curtidas registradas nas páginas dos 100 projetos que figuram no guia. Como a mesma pessoa pode ter curtido mais de um projeto (o que provavelmente ocorreu), não se pode precisar o número de adeptos. Mas é incontestável o viés de alta das ações e serviços colaborativos.

Dos 100 projetos, os campeões de apoio na rede – entre curtidas e seguidores – são: Geekie (3 milhões), Enjoei.com (2,5 milhões), Uber (2,4 milhões), Airbnb (2 milhões) e Wase (1,3 milhão). Juntos, eles somam 11,2 milhões de manifestações positivas.

De acordo com a Market Analysis, um a cada cinco brasileiros já ouviu falar de consumo colaborativo ou compartilhado. Esse percentual aumenta na proporção da renda e da escolaridade e chega a 42% na classe A.

Para mensurar a força nas redes sociais dos 100 projetos listados no guia, foram somados os números de seguidores e de likes de cada iniciativa. Comparado ao universo dos 38 milhões de brasileiros (usuários únicos) – que curtem pelo menos uma fanpage no Facebook (Social Bakers) –, o resultado é que os 100 projetos juntos representam 38,22% no universo dos brasileiros que curtem pelo menos uma página. Ou seja: os serviços baseados em colaboração têm espaço para crescer por meio das redes sociais. O crescimento desse setor, não apenas em São Paulo, mas em todo o mundo, está relacionado justamente à conectividade dos usuários dos serviços.

Para efeito de comparação entre o potencial de mobilização desses projetos (mensurados por meio do número de seguidores e de likes), considerou-se o universo dos 38 milhões de brasileiros (usuários únicos) que curtem pelo menos uma fanpage no Facebook, segundo o Social Bakers, provedor de dados e estatísticas da rede.

Serviços é a categoria que mais mobiliza atenções na rede social – os 10 projetos do setor listados no guia atraíram 3,7 milhões de manifestações positivas – 25,5% do total de likes e seguidores obtidos por todos os projetos do guia juntos. Para se ter ideia do poder de mobilização desse setor, seus likes e seguidores representam quase 10% de todo o universo dos 38 milhões de brasileiros (usuários únicos) que curtem pelo menos uma página do Facebook (Fonte: Social Bakers).

O guia e o site www.cidadecolaborativa.org são iniciativas do Movimento Cidade Colaborativa, que reúne o empreendedor Alexandre Frankel, do Guia Como Viver em São Paulo sem Carro, a agência GIG (Global Intelligence Group), a ESPM e o jornalista Leão Serva, entre outros parceiros. A pesquisa será lançada no dia 28 de agosto, às 9h20, na ESPM, durante o I Seminário Brasileiro de Economia do Compartilhamento, que reúne empreendedores de projetos baseados em compartilhamento, como Uber, Sampa Housing, Couchsurfing, Troca Perfume e outros.

“Nosso objetivo é criar um ponto de encontro colaborativo, reunindo em uma única plataforma projetos existentes em São Paulo e em todo o Brasil”, diz Alexandre Frankel, idealizador do Movimento Cidade Colaborativa.

A economia compartilhada tem crescido por conta da internet e do fortalecimento das redes sociais. As cifras geradas nos dias atuais ainda divergem entre as instituições por ser mais locais do que mundiais. A PWC afirma que, em 2015, a receita anual global do setor será de US$ 15 bilhões. De acordo com estimativas da mesma consultoria, em 2025 esse número saltará para US$ 335 bilhões.

“Essa nova forma de pensar e, principalmente, de viver o consumo, veio para ficar. Mas ainda não existia uma ferramenta que organizasse esses projetos”, afirma Flávio Azevedo, da agência GIG, uma das realizadoras do evento. “Queremos ser o Google da economia colaborativa”,  acrescenta, ressaltando que São Paulo é a principal incubadora desses projetos no Brasil e um dos principais polos criativos da América Latina.

Do perfume à furadeira

Os números do Guia São Paulo Cidade Colaborativa mostram que as iniciativas culturais, a mobilidade e o consumo são predominantes no mundo do compartilhamento em São Paulo. Mas já é possível identificar a expansão do setor para outras áreas, como meio ambiente, alimentação e moradia.

“Não faz mais sentido comprar artigos como furadeiras, escadas ou bombas de encher pneu. Muitos condomínios já oferecem equipamentos compartilhados aos seus moradores”, diz Frankel, do Cidade Colaborativa.

Entre as ações ligadas à cultura, é possível notar uma tendência de democratização da arte. Projetos como Matilha Cultural e Parada do Livro, por exemplo, viabilizam desde a exibição de filmes em locais públicos até a troca de livros em pontos de ônibus. Outros, como o Instituto Choque Cultural e o Garapa, servem como espaços de criação coletiva, um movimento que vem ganhando cada vez mais espaço na cena cultural de São Paulo.

Mundo pequeno

O setor do trabalho é outro que passa por transformações profundas, potencializadas pelas novas tecnologias e pelo compartilhamento. São empresas sem sede física que contam com colaboradores nos quatro cantos do mundo conectados e cumprindo metas globais. Há os coworks – que vão de galpões colaborativos a ofertas comerciais –, que fortalecem parcerias profissionais capazes de gerar bons negócios. Há empresas especializadas em conectar projetos a investidores, como a ProjectHub e a ImpactHub, ambas listadas no guia.

A colaboração também vem se expandindo no segmento de moradia e hospedagem, além da plataforma já consolidada do Airbnb. Hoje existem em São Paulo inúmeras opções de hospedagem que fogem da estrutura tradicional – os viajantes dispõem do Couchsurfing, voltado aos mochileiros, e do Sampa Housing, que disponibiliza apartamentos mobiliados em bairros nobres da cidade.

Os dados da pesquisa mostram ainda que a economia colaborativa vem adquirindo musculatura no segmento de mobilidade – a polêmica recente em torno do funcionamento do Uber no Brasil é um exemplo disso. À margem do imbróglio envolvendo os taxistas, serviços como Fleety, de compartilhamento de carros, ou Bike Sampa, de empréstimo de bicicletas, têm se mostrado alternativas cada vez mais utilizadas pelos paulistanos.

Para o professor da FEA-USP Ricardo Abramovay, apesar do calor das discussões envolvendo alguns setores do compartilhamento, esse tipo de serviço, no mundo e no Brasil, é uma tendência irreversível e sua regulação terá que passar pelo consumidor. Abramovay afirma que os serviços compartilhados enfrentarão no Brasil alguns desafios específicos. Um deles é a falta de tradição em inovar.

“O Brasil é um país extremamente burocrático e tem dificuldade de entender e aceitar inovações”, afirma Abramovay. Outro aspecto, diz ele, é a violência urbana. Como exemplo cita a proliferação dos condomínios residenciais que oferecem diversas opções de lazer e muita segurança aos moradores. Muros altos, diz ele, só agravam o problema. Por isso, a importância da ocupação dos espaços públicos da cidade por seus moradores – seja por meio projeto das bikes, dos parklets ou dos espetáculos em praça pública.