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Como empreendedores aproveitaram a pandemia para aprimorar seus negócios

Desafios impostos pela covid-19 serviram como impulso para pequenas empresas ajustarem seus negócios e aproveitarem novas oportunidades

Durante os quatro meses que a Joy Training ficou fechada na pandemia, Joyce Cristina de Oliveira aproveitou para se aprofundar nas questões administrativas e financeiras da academia. “Depois que reabri, fiz coisas que em três anos de existência do negócio não tinha feito. A academia era mal administrada. Eu tive uma mudança pessoal e minha consciência mudou”, relata a empreendedora, que prevê um 2021 de crescimento no faturamento.

Joyce faz parte de um grupo de empreendedores que consideram que os desafios enfrentados na pandemia da covid-19 trouxeram mudanças valiosas para o negócio.

Essa foi a percepção de 26% dos participantes da 8ª pesquisa do Sebrae sobre o impacto da pandemia do coronavírus nos pequenos negócios. Outros 13% se disseram animados com as novas oportunidades e 18% acreditam que o pior já passou. No entanto, 43% apontaram ainda muitas dificuldades para manter a empresa.

O consultor do Sebrae-SP Felipe Chiconato destaca que em 2020 o comportamento de consumo das pessoas mudou, assim como as prioridades. “Para que 2021 seja bem melhor precisamos aprender com 2020. A capacidade de adaptação e de reinvenção das empresas para mim é o grande aprendizado. O empreendedor é responsável pelo resultado que deseja para sua empresa”, reforça.

Joyce conta que a academia, localizada no Grajaú em São Paulo, nunca foi “mal das pernas”, mas era mal administrada. “Comecei a trabalhar com pró-labore, reduzi meus custos e a academia respirou. Os alunos me ajudaram muito no período em que fiquei fechada e aproveitei para pintar o box e investir em mais equipamentos”, afirma. A empreendedora, que conseguiu ainda renegociar o aluguel, se esforça para ampliar a participação de alunos recorrentes e planeja para 2021 entender melhor a taxa de desistência da academia.

Recomeço

O empresário Fabio Feitoza viu o faturamento da fábrica de velas cair a zero com a pandemia, justamente no período que fez um alto investimento em matéria-prima de olho em datas tradicionais. “Tudo fechou, igrejas, buffets; nem velório podia fazer. Não tinha para quem vender velas”, lembra. Sem dinheiro em caixa para fazer o acerto com os funcionários, vendeu um carro e decidiu repensar o negócio.

Em conversas com amigos, Feitoza chegou à solução de diversificar os produtos vendidos. Com cerca de 200 paróquias da cidade de São Paulo no portfólio de clientes, a saída foi ofertar não só velas, mas outros itens utilizados nas celebrações católicas, como hóstias e alfaias litúrgicas.

O próximo passo foi buscar fornecedores e aprovar a entrada de mais dois sócios, o casal Martânia e Douglas Rosa, para ajudar com aporte financeiro. “Saímos de uma fábrica de velas para uma solução de produtos para paróquias. E também vendemos para o público final”, conta Feitoza, que também tem a esposa Ana Paula Inacio da Silva na sociedade.

Agora, com a Hominis Deus, Feitoza dobrou o faturamento mensal em comparação ao mesmo período de 2019 e ajustou a precificação dos produtos para melhorar a lucratividade com a ajuda do Sebrae-SP. “Fomos do zero para o céu. Antes eu tinha que oferecer a vela para as paróquias. Agora somos requisitados”, afirma.

Para 2021, a expectativa é dobrar o faturamento da Hominis Deus, investir na produção de conteúdo e kits de produtos temáticos. “Eu sempre fui cheio de ideias, mas não conseguia colocar em prática. Com a entrada dos sócios e mais dinheiro, os planos são grandes”, destaca Feitoza.

Ter um delivery estruturado contribuiu para os números positivos da Broo’s Cookies, empresa criada em 2015 pela economista Bruna Rabelo. O negócio começou com a venda dos doces para amigos e pequenos cafés e a primeira loja foi inaugurada em 2017, na Vila Madalena, na capital paulista. A loja de fábrica no Campo Belo abriu as portas dois anos depois. E no fim de 2020, mesmo com todo o cenário desafiador, Bruna decidiu investir em mais uma loja, no Tatuapé.

“A decisão foi baseada no nosso plano de expansão, que foi adiantado, frente ao aumento do consumo dos nossos produtos e fidelização dos clientes”, conta. A marca tem um público cativo que, mesmo com um frete mais caro, solicita a entrega para outras regiões onde não há loja da Broo’s Cookies.

“Com um caixa estruturado e dinheiro para investir, frente aos meses de grande crescimento na pandemia, decidi não esperar e já inaugurar a loja do Tatuapé”, diz Bruna, que planeja novos investimentos na zona norte e Grande ABC.

Para 2021, a expectativa é de crescimento. “O ano de 2020 nos mostrou uma mudança do perfil do consumo, e em 2021, apesar de incerto frente às questões da pandemia, acreditamos na manutenção do consumo via delivery, com crescimento do setor de alimentação”, afirma Bruna.

Perfil

Ao analisar as características dos empreendedores que conseguiram se superar na pandemia, como Joyce, Feitoza e Bruna, o consultor do Sebrae-SP destaca cinco particularidades. A primeira é a ação. Os empreendedores que tiveram os melhores resultado colocaram novas ideias em prática.

A segunda característica foi correr riscos calculados. Todos fizeram uma projeção de qual seria o cenário com mudança e sem mudança, para poder assim calcular o tamanho do risco que estavam enfrentando.

A inovação foi outro ponto em comum. Eles saíram da zona de conforto e pensaram em maneiras de entregar a proposta ao cliente. O planejamento também foi fundamental. Todos pararam para avaliar o cenário atual, levantaram os pontos fortes e fracos, olharam para dentro e fora do negócio, buscaram e estruturaram os caminhos.

A quinta característica foi o trabalho em rede. A busca de parcerias, contatos e o compartilhamento de experiências foi intenso entre quem conseguiu se superar. “Eu chamo a atenção para a ação. O empreendedor precisa assumir o papel de protagonista e buscar soluções para alcançar os resultados esperados”, ressalta Chiconato.

No que prestar atenção na hora de planejar o seu negócio para 2021?

  • O que é seu negócio? (lembrando que isso não é seu produto ou serviço, mas sim o que de fato entrega como solução)
  • Como está o comportamento de consumo do seu cliente?
  • As necessidades dos seus clientes mudaram?
  • Qual o seu objetivo para 2021? Aonde deseja chegar?
  • O que você precisa fazer para chegar lá?
  • Fazer uma boa matriz SWOT ou FOFA (levantamento das forças e fraquezas, oportunidades e ameaças).
  • Como estará seu financeiro? Boa parte dos créditos tomados em 2020 começam a ser pagos em 2021.